Sarney escritor

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O escritor

A arte de escrever faz parte da vida de José Sarney desde muito cedo. Aos 16 anos, o jovem José ganhou um concurso de reportagens promovido pelo jornal O Imparcial e fora contratado como repórter. No seu percurso jornalístico, passou pela reportagem policial e, com pouco tempo, criou um suplemento literário no periódico.

Com o jornalismo fundou o Jornal O Estado do Maranhão e contribuiu como cronista em diversos periódicos. Em 1953, publicou o ensaio Pesquisa sobre a pesca de curral na Ilha de Curupu, no mesmo ano assumiu a cadeira 22 da Academia Maranhense de Letras, recepcionado por Mata Roma.

Na Academia Brasileira de Letras (ABL) foi eleito no dia 17 de julho de 1980, ocupando a cadeira n.º 38. Na cerimônia de posse, realizada no dia 6 de novembro de 1980, foi recebido pelo conterrâneo e amigo Josué Montello. “A Academia era para mim um horizonte longínquo. Leve sedução transformada na ambição que, sem coragem de ser desejo, era um desejo de desejá-la e, desejando desejá-la, tornou-se desejo, esperança e sonho. Sonho que se realizou e, como diz Jorge Luis Borges, quem realiza um sonho, constrói uma parcela de sua própria eternidade”, disse em seu discurso de posse. 

Em 1954, lança o emblemático A Canção Inicial, considerada inovadora na época do seu lançamento.  José Chagas classificou a obra como inovadora. “Para a época de seu lançamento, A Canção Inicial é uma obra avançada, em termos de estrutura verbal, pois que Sarney não fez concessões às formas tradicionais do poema, o que se verifica pela quase completa ausência de metro e rima, elementos de que outros muito ainda se serviam. Nos versos de Sarney predomina, no entanto, o apoio de uma consciência rítmica de que ele era já senhor absoluto. Suas Baladas evidenciam isso e ainda nos revelam um alto nível de espontânea musicalidade, sem cair no andamento monótono a que quase sempre somos levados em poemas desse tipo”, escreveu no prefácio da segunda edição da obra, lançada em 2001.

Personalidade

Escritor inquieto, na juventude, ao lado de escritores como Bandeira Tribuzi, Luci Teixeira, Lago Burnet, Bello Parta, José Bento, integrou o movimento literário difundido por meio da revista que lançou o pós-modernismo no Maranhão, A Ilha, da qual foi um dos fundadores.

Na sua verve de escritor, obras de poesia, crônicas, contos, buscando inspirações no cotidiano tanto da sua trajetória política, cultural e social, o que rendeu histórias instigantes em uma obra consagrada pelo público e pela crítica, com mais de 121 títulos, em 169 edições, com traduções em 11 línguas. Livros como Maribondos de Fogo, O Dono do Mar e Saraminda foram traduzidos para diversos idiomas.

Com uma obra sensível, Sarney constrói personagens fortes como Saraminda, uma mulher sedutora, dona do seu destino ou o capitão Cristório, que desbrava as lendas dos mares, encantando-se em dores e paixões de O Dono do Mar, um livro fundamental para a história de pescadores do Maranhão.

Curiosidades

  • A Canção Inicial foge das formas clássicas da poesia para relevar um ritmo próprio, o texto mais livre se apoia em um apreço pelo ritmo e pelos elementos de identidade cultural: a ilha, o mar, ruas, prédios, praia, história;

  • Quando era Governador do Maranhão escreveu O Norte das Águas. O trabalho político e o mergulho intenso na vida popular maranhense renderam a criação de personagens como os Boastardes, o Beatinho da Mãe de Deus, a Dona Merícia do Riacho Bem-Querer são personagens do cerne da sociedade brasileira que ganham vida em uma narrativa envolvente;

  • Brejal dos Guajás e Outras Histórias foi publicado em 1985 e traduzido para o chinês em 1986. O livro de contos é uma peça importante para a história de O Norte das Águas, lançado em 1969.

  • O Dono do Mar foi lançado em 1995 e, desde o seu lançamento, foi considerando um grande sucesso de público. A obra foi traduzida para o francês, inglês, romeno, espanhol, grego e árabe. Foi best seller no México, saiu em livro de bolso na França;

  • Saraminda é um dos raros livros brasileiros a chegar à consagração da coleção Folio, de livros de bolso;

  • A Duquesa Vale uma Missa é o terceiro romance de José Sarney e mostra outra face do escritor: uma narrativa urbana bem diferente dos personagens ligados à natureza, como os encontrados em Saraminda e O Dono do Mar.