Uma vocação para a política, um olhar atento para as causas sociais e a vontade de promover grandes transformações. É assim que pode definir o José Sarney em sua trajetória política, algo que se estabeleceu definitivamente em sua vida, após formar-se na Faculdade de Direito, em 1953, José Sarney começou a dedicar-se para a vida política. Seu ingresso na vida política foi em 1954, como deputado federal, foi eleito por três legislaturas.
Em 1965, em uma campanha com grande apoio popular, José Sarney foi eleito governador do Maranhão, derrotando por ampla maioria os dois candidatos aliados de Vitorino Freire, considerada a situação política do momento no Maranhão. A sua visão arrojada por mudanças no contexto social do Maranhão foi decisiva para a sua vitória.
Governador
O seu mandato foi marcado por grandes obras de infraestrutura. Na época, havia somente 7.500 kw de energia elétrica disponível, 13 km de estradas pavimentadas, e a capital mantinha-se bem isolada. Sarney aumentou os investimentos em 2.000%, instalou uma capacidade elétrica de 230 mil kW, pavimentou centenas de quilômetros de estradas. A capital São Luís foi urbanizada e cresceu como polo comercial, com a construção da ponte do São Francisco, um percurso que uniu dois pontos diferentes da cidade, facilitando o fluxo de pessoas e o crescimento econômico da cidade. Outra obra marcante foi da BR-135, ligando a cidade a Teresina, no Piauí. Além disso, abriu o porto do Itaqui, cujo acesso foi viabilizado por uma barragem.
A educação e a saúde também foram áreas de grande investimento do governador, com o aumento do número de escolas e, na ocasião, a Universidade Federal do Maranhão.
Até hoje, José Sarney é lembrado como um governador com visão arrojada de empreendimentos para melhorar o crescimento urbano do estado, em diferentes aspectos.
Senador pelo Maranhão
Após exercer com maestria o governo do Maranhão, em 1970, foi eleito para o Senado Federal, tendo exercido o cargo de vice-líder do Governo Geisel.
Reelegeu-se em 1978 e, no ano seguinte, foi presidente Nacional da Arena. Em 1980, foi presidente nacional do Partido Democrático Social (PDS), sucessor da Arena. Nesse ano, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras na vaga de José Américo de Almeida.
Renunciou à presidência do PDS e desligou-se do Partido em junho de 1984. Formou a Frente Liberal — mais tarde transformada no Partido da Frente Liberal (PFL) — que apoiou a candidatura de Tancredo Neves à presidência. Foi indicado como candidato a Vice-Presidente e a chapa venceu no Colégio Eleitoral. Em razão da doença de Tancredo Neves, internado à véspera da posse, José Sarney assumiu a presidência da República em caráter interino e foi confirmado no cargo após a morte do Presidente eleito, em abril de 1985.
Presidente da República
Como Presidente da República, a princípio, manteve as ideias básicas e o Ministério de seu antecessor e teve a grande missão de fazer a transição do país para a Democracia, após 20 anos sob o Regime Militar.
Recuperar a confiança de brasileiros e brasileiras e realizar a reforma constitucional foi um dos grandes desafios do mandato. Em 2023, quando se completou 35 anos da aprovação da Constituição Federal, José Sarney lembrou a responsabilidade do período. “O processo de reforma constitucional de 1988 iniciou-se com a longa discussão sobre as Constituições de 1967 e 1969, isto é, as duas Constituições outorgadas pelo regime militar. Independentemente de suas qualidades ou defeitos, estavam marcadas como ilegítimas. Era necessário, para a redemocratização do país, um novo marco institucional. Este postulado tomou forma como um dos pontos do ‘Compromisso com a Nação’ assumido pela Aliança Democrática, que permitiu a vitória da oposição em 1985. Levado, por força da fatalidade, à Presidência da República, coube a mim convocar a Assembleia Nacional Constituinte. Em 28 de junho, enviei ao Congresso Nacional Proposta de Emenda Constitucional dando aos parlamentares a serem eleitos em novembro de 1986 ‘poderes para elaborar e promulgar a nova lei fundamental e suprema do País’”, escreveu na Coluna do Sarney no dia 9 de outubro de 2023.
No âmbito econômico, antes de assumir a presidência da República, o Brasil estava vivendo uma intensa crise econômica, para reduzir a inflação e melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro, logo no início de 1986, lançando o Programa de Estabilização Econômica, conhecido como Plano Cruzado, que teve novos formatos ao longo do Governo com o intuito de melhorar a situação econômica do país. Ao fim do mandato, o país foi elevado ao posto de sétima maior economia do mundo e teve o terceiro saldo exportador do mundo.
A dívida externa caiu de 54% para 28% do PIB. Em 1989, o déficit primário de 2,58% do PIB em 1984 foi substituído por um superávit de 0,8% do PIB. O PIB, medido em dólares (variação cambial), cresceu 119%. O PIB per capita cresceu 99%. A média do índice de desemprego foi de 3,89%, chegando a 2,16% durante o Plano Cruzado e 2,36% em fins de 1989.
Senador pelo Amapá
Após cumprir seu mandato na Presidência da República, José Sarney foi eleito, em 1990, senador pelo Amapá. O ex-território federal acabara de ser tornado estado, e para lá mudara seu domicílio eleitoral. Sempre com projetos focados na população, logo no primeiro mandato conseguiu a aprovação do Estatuto da Micro e Pequena Empresa, algo que beneficiaria muito a economia do país e garantiu ainda a aprovação da Área de Livre Comércio de Macapá e Santana.
Em um período de epidemia do HIV, seu projeto de distribuição gratuita de medicamentos aos portadores do vírus tornou-se uma referência internacional.
Com grandes projetos e com apoio da população, foi reeleito em 1998. Neste mandato, um dos destaques foi de sua autoria, a primeira proposta de cotas raciais apresentada ao Congresso, em 1999, que foi aprovada no Senado, mas acabou perdendo força ao ser apensada na Câmara ao Estatuto da Igualdade Racial. Seu projeto, que englobava concursos para cargos públicos em todas as esferas federativas e o Fies — Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), determinava que no mínimo 20% das vagas fossem reservadas para pessoas negras.
Em 2006, o Amapá, pela terceira vez, elegeu Sarney como seu representante no Senado. Como Senador, foi presidente do Senado Federal por quatro vezes, tendo o diálogo como uma característica fundamental para o equilíbrio e estabilidade das relações dos Três Poderes.